"Já sei que, se para ser o homem, escolher pudera, ninguém o
papel quisera do sofrer e padecer; todos quiseram fazer o de mandar e reger,
sem advertir e sem ver que, em ato tão singular, aquilo é representar mesmo ao
pensar que é viver."
(Calderón de la Barca)
Quando hoje, sem qualquer pretensão liguei a câmera do computador e
comecei a discorrer para mim mesmo, talvez na intenção de fazer algum
ajustezinho de luz ou cenário, não tinha de fato qualquer ideia de produzir um vídeo
e postá-lo, menos ainda de escrever a respeito desse tema, entretanto, ao começar
a falar descontraidamente (como se percebe no vídeo), a primeira coisa que me
veio a mente foi recitar esse lindíssimo verso de Calderón de la Barca, dramaturgo
e poeta espanhol do século XVII, que sempre me inspira muito. O verso provoca o
contraponto chocante do verdadeiro significado de viver à toda forma de
superficialidade e auto indução à idiotice. Atualíssimo que é, e até profético,
eu diria, sobretudo em face das concepções que definem a era pós-moderna em que
vivemos na qual impera a "tirania da felicidade" (título do Livro do
filósofo Luis Felipe Pondé) e que apontam inequivocamente para o “eu”, e “o
sucesso a todo custo”, Calderón desmonta com simplicidade e realismo a
estrutura das aparências e posições humanas sobrepostas à inexorável realidade
da vida que é constituída de sofrer e padecer e não de mandar e reger e abre espaço
(segundo o meu ver daqui pra frente) para o desdobramento quase automático de
que não podemos jamais confundir qualquer posição de influencia e autoridade que
a vida nos venha a conferir como se fora isso condição intriseca de
brilhantismo inato e predestinado em detrimento a tantos outros pobres diabos
que não nasceram com a mesma sorte, ao contrário, a realidade demarcada nesse
verso de Calderón nos impele a pensar em nossas posições e nas condições que a
vida nos oferece não como um pretexto ao ego, mas como uma responsabilidade
para estendermos a mão aos que sofrem.
Eu considero a aplicação da realidade contida nesse verso um grande
desafio que temos remando num oceano de tendências egocêntricas e superficiais.
Neste vídeo falamos um pouco dessas tendências e da mentalidade em vigor
refletida em propagandas e nas formas de relações existentes e de como isso
tudo nos distancia cada vez mais dessa terra firme chamada “vida” levando-nos a
representar ao invés de viver.
Como eu disse desde o início, vocês perceberão que o vídeo não tem nenhum compromisso com o ângulo e a acústica porque não foi planejado para ser publicado, digamos que ele foi um anti concepcional que falhou (rsrs). De qualquer forma entendi que a espontaneidade que ele apresenta se mostrou um ingrediente a favor e não contra, então ele veio à luz.
Como eu disse desde o início, vocês perceberão que o vídeo não tem nenhum compromisso com o ângulo e a acústica porque não foi planejado para ser publicado, digamos que ele foi um anti concepcional que falhou (rsrs). De qualquer forma entendi que a espontaneidade que ele apresenta se mostrou um ingrediente a favor e não contra, então ele veio à luz.
Espero que todos apreciem as considerações aqui expostas!
Excelente vídeo! Irei seguir seu blog!
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