sábado, 11 de abril de 2015

Caiu na rede é peixe


Quem já não se deparou com o seguinte fato: Você pesquisa um determinado produto - por exemplo, um tênis de corrida de determinada marca. Daí por diante, em cada página que você abre aparece magicamente um bannerzinho alertando para uma promoção justamente no objeto pesquisado anteriormente. O que é isso? Mediunidade? Antes fosse, mas o buraco é muito mais embaixo!

Lendo um artigo escrito em abril do ano passado por Marcos Hiller, Mestre em comunicação e consumo pela ESPM, deparei-me novamente com questionamentos que sempre carrego em minha mente a respeito das implicações do nosso uso constante das redes sociais, aliás ainda ontem conversava com minha esposa a respeito disso - falávamos justamente sobre a enormidade de dados que vem sendo armazenada ao longo de anos das nossas entradas e saídas na www, desde a nossa mais inofensiva navegação em busca de alguma informação simples até as informações que deliberadamente vamos postando aqui e ali sem que nos demos a mais mínima conta de que isso está de fato acontecendo, mas está! Você já parou pra pensar que desde os dados simples e involuntários como, por exemplo, o horário habitual e a freqüência com que você entra na rede, até aqueles que fazemos por iniciativa, como por exemplo, nossos objetos de pesquisas, preferências, curtidas, comentários, fotos, dados pessoais, escolha de amigos, sites, compras.... enfim (a lista seria interminável) tudo absolutamente é não apenas monitorado, mas armazenado? Ou você imagina que essas informações simplesmente evaporem ou desintegrem-se após o uso por causa de algum tipo de consenso ético existente entre os 3 ou 4 gigantes concorrentes e donos do mundo digital? É claro que não. E também não precisamos ir muito longe na dedução lógica pra entendermos que essa base de dados é capaz de traçar com precisão quase cirúrgica até mesmo quais serão nossos próximos passos a partir do nosso histórico já muito bem registrado - qualquer psicólogo que conhecesse minimamente os princípios e fundamentos da psiquê humana facilmente traçaria não apenas o seu perfil, como anteciparia reações à todas as suas próximas ações e faria isso com acertos de 99,99%, sendo que o 0,1% fica a encargo do acaso que é imprevisível aos dois lados, portanto, nem ele, necessariamente nos beneficiaria nessa questão. Portanto, não se trata das velhas discussões sobre o tempo que passamos na internet ou sobre os limites que devemos manter quanto a nossa discrição e privacidade no cuidado do nosso próprio corpo, patrimônios, e família, cuidado que evita de fazermos da nossa vida privada, pública essa discussão é, de fato importante, entretanto, dada a visceralidade da primeira, essa, que diz respeito a como usar a rede cai para o segundo degrau - no pódio reina soberana a questão insofismável do que fazer ante a realidade de que os dados que já fornecemos até agora são mais do que suficientes para munir extraordinariamente um banco de informações que nenhuma inteligência estatal já havida na terra, nem mesmo a soma delas todas - KGB, a CIA, a GESTAPO, etc, etc - jamais teve ou sonharia em ter nas mãos... Pois todas essas informações a meu e seu respeito, não somente existem, mas estão disponíveis e acessíveis na rede para alguém! Pense nisso: Com um cômpito de informações que não representariam - na melhor das hipóteses - 1% do que se tem hoje na web, já se mapearam guerras inteiras, criaram-se e desfizeram-se governos de alcance quase continentais... 
É muita coisa pra se pensar? Sem dúvida que é, mas tenha a certeza de que "alguens" está pensando nisso dia e noite por mim e por você a fim de nos poupar de tão árdua tarefa... E não é de hoje! O fato é que, como se costuma dizer, e aqui mais literalmente, caiu na rede é peixe!
O que fazer? 
Não sou catedrático no assunto, mas digo, por instinto e, baseado em minha própria percepção que, se possível fora, o ideal seria que pudéssemos anular todas as nossas contas e cadastros e permanecermos fora desse universo digital, mas como imagino que isso seja impensável para a maioria na atual conjuntora, como o é também pra mim, penso que o melhor a fazer - o que eu mesmo tenho feito - expor-se o mínimo possível no que se refere a cadastros aqui e ali, opiniões que sejam mera gordura e fotos, mero exibicionismo e finalmente concentrar-se em conteúdos que sejam de fato relevantes, sobretudo, do ponto de vista de ajuda aos outros e, pelos quais valia a pena expor-se!    


Toda rede social digital tem por trás um elemento chamado algoritmo. Nada mais é do que um código numérico (e geralmente super secreto) que rege todo o funcionamento do sistema. É como se fosse o cabeamento que está por trás de todos esses complexos espaços digitais que ficamos conectados por parte de nosso dia. O Netflix tem um algoritmo, o Google também tem, além do Facebook, do Twitter, do Xbox, simplesmente todos esses espaços digitais são regidos por um algoritmo.
E o nível de sofisticação do algoritmo do Facebook é tão impressionante que muda cerca de duas vezes ao dia. Isso significa que todo santo dia muda alguma coisa no nosso Facebook, nem que seja algo praticamente imperceptível aos nossos olhos. Mas todo dia muda algo: seja uma matiz do pantone do azul, seja um ajuste na segmentação de campanhas, ou uma mudança na forma como vemos nossas fotos, ou até mesmo a inserção de um bip quando alguém nos chama no chat.
O algoritmo do Facebook, que é muito bem construído, mas ainda não é tão sofisticado como o do Google, modula e modela a forma como nossa timeline nos é apresentada. Ou seja, toda vez que pegamos nosso celular e apertamos o ícone do Facebook (fazemos essa ato dezenas de vezes ao dia, certo?), o algoritmo seleciona cerca de 1500 publicações que ele entende que serão interessantes para nós naquele momento e, logicamente, tudo isso baseado no nosso comportamento passado.
Isso significa que vemos no nosso Facebook não necessariamente o que queremos ver, mas sim o que o Facebook entende que será interessante para nós naquele momento. Toda e qualquer interação nossa com o Facebook se transforma em um log de programação e isso é armazenado e entendido pelo algoritmo. Se curtimos algo, o Facebook guarda esse dado, se damos check-in em determinado local, ele armazena isso, o que escrevemos, o que conversamos o chat, se paramos um post com o dedo na tela de nosso smartphone, sim o Facebook está olhando, monitorando e arquivando tudo isso.
A sacada de Mark Zuckerberg é sensacional. Teoricamente o Facebook é gratuito, não é? Mas na verdade, nós estamos trabalhando “de graça” para eles. Como assim? Oras, nós depositamos no Facebook uma série de informações importantes a nosso respeito, como nos relacionamos, hábitos de consumo, como nos comportamos, etc. Há aquelas pessoas que narram o seu dia-a-dia na timeline do Facebook, dá check-in em todos os lugares que vai, escreve tudo o que pensa, fala sobre marcas, produtos, dá opiniões sobre tudo, etc.
O algoritmo do Facebook simplesmente categoriza tudo isso e “vende” esses dados (muito valiosos) para os anunciantes em formato de “Facebook Ads”. Ou seja, eu posso investir no Facebook e fazer uma ação de comunicação junto a usuários com um nível de segmentação cirurgicamente controlável. Por exemplo, faço um post e quero que essa publicação apareça apenas para: meninas, com idade entre 15 e 18 anos, da cidade de Araçatuba e que acessam o Facebook por meio de um smartphone da Motorola. Bingo! Consigo segmentar a esse nível. Para quem trabalha com ações de marketing, isso é um sonho de consumo. Absolutamente mensurável e com um nível de segmentação, alcance e impacto incríveis.
Há quem critique a forma feroz com o que algoritmo do Facebook está ceifando o alcance dos posts Está um chororô danado aliás. As marcas construíram fanpages belíssimas, conquistaram centenas e milhares de fãs e agora tudo que se publica é visualizado apenas por uma pequena parcela desses usuários. Imagine que se tudo fosse postado pelas milhões de fanpages fosse visualizado por nós. Nossa timeline iria se transformar num caos completo. Nessas horas, eu até agradeço essa interferência pertinente do algoritmo que “pune” quem não sabe usar o Facebook. Ou seja, publicações que não são relevantes (que não são compartilhadas ou curtidas) são castigadas com uma redução drástica do alcance.
Eu fundei em 2011 um grupo de debate sobre Branding, chama-se Brand Thinkers. No último encontro de 2012, recebemos o Rapha Vasconcellos, o Vice Presidente Criativo do Facebook para a América Latina. Com uma simpatia sui generis, Rapha nos brindou uma conversa super agradável por cerca de duas horas. Em dado momento, o executivo disse que a versão do aplicativo do Facebook que ele usara em seu iPhone seria uma versão que nós (meros mortais) teremos acesso no nosso smartphone daqui a dois anos. Ou seja, eles já estão com olho lá na frente. Facebook sobretudo é uma empresa mobile e que pensa inovação 24 horas dia. As melhores cabeças pensantes do mundo hoje estão no Facebook? Eu creio que sim.
Em 2011, o filósofo franco-canadense Pierre Lévy, autor do clássico livro “Cibercultura” esteve no Brasil e em uma de suas brilhantes falas, ele soltou uma frase que me faz refletir muito sobre essa lógica do algoritmo. Ele disse assim: “Ou você domina o algoritmo do Facebook, ou ele te domina”. Esse ponto crucial é que está em questão hoje em dia. O quanto que essa sofisticação do algoritmo cria uma estratégia de dominação social?
De modo que a forma com que nos apropriamos desses espaços digitais está impactando nossos relacionamentos? Quais seriam os efeitos danosos do uso irrefreado de sites de redes sociais? Até que ponto poderia se afirmar que as interações em aplicativos como Facebook, Instagram e WhatsApp intensificariam um espécie de autismo e desconexão social nas pessoas? Essas são questões candentes, inquietações que levaram estudiosos como Sherry Turkle (psicóloga do MIT) a considerar que estamos “alone together” nas redes sociais digitais.
Para revitalizar nossos vínculos afetivos interpessoais, a autora propõe um regime de desintoxicação por meio de abstinência digital. Embora considere um tanto radical a perspectiva adotada por Turkle, entendo que os efeitos de longo prazo de nossas interações mediadas pelo Facebook necessitem ainda de muito estudo. É uma importante questão e que nos exige reflexões profundas e um debate urgente. Aliás estou pensando seriamente em cometer um “Facebookcídio” e sair da rede. Só que (ainda) não!

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