quinta-feira, 9 de abril de 2015

Vaidade (Florbela Espanca)

Quero dar meu boa noite de hoje deixando a todos esse lindíssimo poema de Florbela Espanca, uma das mais sensíveis poetisas portuguesas e que eu, particularmente gosto muito. Que tristemente matou-se jovem porque suas angústias mal resolvidas tornaram-se pra ela insuportáveis. Num mundo cada vez mais avesso ao sofrimento como se fosse um câncer - até mesmo aqueles que, de naturais que são, se deveriam notar como inevitáveis e normais, eu não sei o que é pior: Se padecer de tristeza ou nada sentir... Boa noite a todos  


Vaidade
Florbela Espanca


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada! 

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