quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pão do Dia - A Luta Pela Verdade

O que vem à sua mente quando se apresentam os opostos "verdade" e "mentira"? Normalmente o que surge é uma alusão ao ato, ou, a um ato pontual, de falar a verdade ou mentir. Entretanto essas duas palavras - verdade e mentira - expressam muito mais que atos isolados que podem ser avaliados moralmente, expressam um modo existencial - era justamente sobre isso que Jesus falava aos judeus nessa passagem do Evangelho de João 8: 

João 8: 
23 E prosseguiu: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou.
24 Por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados. 
25 Então, lhe perguntaram: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Que é que desde o princípio vos tenho dito? 
26 Muitas coisas tenho para dizer a vosso respeito e vos julgar; porém aquele que me enviou é verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo.
27 Eles, porém, não atinaram que lhes falava do Pai.
28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou.
29 E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.
30 Ditas estas coisas, muitos creram nele.
31 Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos;
32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
33 Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?
34 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado.
35 O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre.
36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
37 Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós.
38 Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai.
39 Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão.
40 Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão.
41 Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos um pai, que é Deus.
42 Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.
43 Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra.
44 Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.
45 Mas, porque eu digo a verdade, não me credes.


Cada um dos versículos demonstra a tensão intrínseca entre duas realidades opostas: A primeira de Jesus que trazia a verdade mais pura a respeito de Sua própria realidade espiritual e a realidades deles - os judeus que o ouviam. A segunda - a dos judeus que, imersos num ambiente mental de mentiras, chavões mentais e auto-convencimento, resistiam naturalmente à apresentação dessas realidades. 
O que ocorreu é que Jesus precisou descascar, por meio da exposição da verdade, camada por camada dessa estrutura mental e social de mentiras na qual eles estavam imersos - isso se demonstra na evolução do diálogo descrito: 
_ Jesus começa dizendo - "Sou de cima, vocês aqui debaixo" - Eles não entendem;
_ Jesus fala-lhes da necessidade de permanecerem na verdade para serem libertos - Eles resistem alegando que não eram e jamais haviam sido escravos;
_ Jesus demonstra que todo o que comete pecado é escravo do pecado, demonstrando a inescapabilidade dessa realidade - Eles se esquivam dizendo que eram descendência de Abraão;
_ Jesus desmonta o slogan dizendo que isso em si é vazio caso não venha acompanhado do mesmo espírito que teve Abraão - Eles então apelam para o argumento que considerariam inexpugnável - dizem a Jesus: "Temos um Pai que é Deus" - pensaram "todos são filhos de Deus, isso deve encerrar a questão";
_ Jesus finalmente descasca a última camada de mentiras expondo a realidade mais impactante no versículo 44 - Ele diz: "vós sois do diabo que é o vosso pai.... ele jamais se firmou na verdade... quando fala mentira fala do que lhe é próprio...."

Uma coisa importante em tudo isso: Jesus não falava as coisas para chocar as pessoas ou para tornar-se polêmico - Ele falava simplesmente porque era verdade e a verdade é a única coisa pela qual vale apena lutar! 
Essa passagem nos remete a uma realidade ainda mais alarmante: Jesus encontra uma resistência tão forte num lugar e numa cultura relativamente pequenas. Porém imagine esse teatro das ilusões em que algumas centenas de pessoas atuavam transportado para a escala global e expandido não só a todas as pessoas, mas à todas as áreas e atividades das pessoas.... Conseguiu imaginar? Pois é justamente a realidade em que vivemos nos dias de hoje - a realidade da dissimulação e do fingimento generalizados em que tudo é propaganda, slogan, chavão - quiça até crenças e paradigmas que costumamos carregar como realidades - valeria apena submete-los à luz!
Num contexto assim a verdade não surge como algo natural - ao contrário - ela soa estranha, esquisita, até com ares de loucura. Justamente por isso, decidir-se a viver na verdade implicará necessariamente num árduo trabalho diário desde dentro que cada um deve estar disposto a ter!




Nenhum comentário:

Postar um comentário