Ontem postei um texto lindíssimo
de Antônio Machado cuja frase pivotal e bastante conhecida é Quien
habla solo espera hablar a Dios un día
O significado dessa frase se
explica pelo contexto que a antecede: Converso con el hombre que
siempre va conmigo - Converso com o homem que sempre vai comigo - referindo-se
logicamente ao próprio interlocutor, e completa: Quien habla solo espera
hablar a Dios un día.
O sentido aqui referido é o de que aquele que dialoga habitualmente consigo mesmo,
adquire consciência subjetiva suficiente para falar aos outros, e por fim com
Deus.
Vivemos num mundo repleto de
opiniões e ecos - ouvem-se os ecos e, na maioria das vezes não se sabe de onde
vieram as vozes que os originaram, mesmo assim, desde que sejam esteticamente
agradáveis e consoantes às expectativas coletivas eles continuam soando e
soando, tenham eles raízes ou não. O resultado previsível e inevitável
é aquilo que observamos na sociedade moderna: Qualquer garoto ou garota
levanta-se para opinar e defender posições e tomar fervorosamente o partido
em questões para as quais suas tenras existências sequer lhes permitiu ainda a
oportunidade de vivenciarem aquilo que seria minimamente necessário para que
tais posições pudessem ser confirmadas um mínimo de verdade radical.
Em contrapartida a essa
realidade, o texto de Machado no leva a refletir sobre a fundamental
importância em ouvirmos a nossa própria voz no meio de tantas outras -
pré-requisito básico para que não incorramos no ardil mental de não discernimos
de onde primeiramente surgiu o pensamento que nos ocorre e o som que sai de
nossa boca - Escrevendo sobre isso me ocorre a pergunta que Jesus fez a Pilatos
em seu próprio tribunal quando esse, seguindo a massa perguntou o que a todos
agradaria: "Tu és rei?". Jesus, sem divagações lhe devolve a seguinte
pergunta: "Vem de ti mesmo
essa pergunta ou outros te disseram isso?"
Cada um de nós deveríamos nos
questionar no mesmo sentido: "Será que vem de mim mesmo
essas coisas que estou dizendo ou pensando? Será que não é apenas o eco que
reverbera em mim e continua se propagando? Eu tenho elementos críticos
suficientes para falar do que estou me propondo?"
Precisamos retornar a
humildade - elemento sine qua nom de uma sociedade saudável - e, sem o medo de
parecermos desinformados a quem quer que seja, e, tranquilamente concluirmos diante de
determinados assuntos: "Eu
nao sei o suficiente sobre isso" ou "Não tenho
ainda opiniões formadas sobre isso, o que tenho ainda são apenas impressões". Aonde está o demérito pessoal nisso? Por que
precisamos parecer e parecer que de tudo sabemos em detrimento de cuidarmos de
termos as raízes verdadeiras- sem a qual tudo é falsificação - em
nós mesmos? Por que precisamos fazer o papel de gênios iluminados em que
todos sabem tudo sobre tudo! É evidente que isso é uma tremenda distorção de
realidade!
A poesia de Antonio Machado
incita tacitamente a que é preciso que cada um aprenda a falar consigo mesmo, a
ouvir a voz do próprio coração e submete-la a todos os processos de validação
para, daí então, quem sabe - não necessariamente - arriscar-se em teses e
opiniões. É preciso desarmar-se da pressa afoita de mudar o mundo através de
nossas contribuições - essas, se Deus permitir, virão a seu tempo, antes porem,
temos que vivenciar a experiência única e, realmente transformadora de nos
deparamos com nossas próprias verdades.
Mas isso obviamente requer
tempo
Hoje, assistindo a primeira aula do COF, encontrei esse artigo. Muito obrigada por esse registro em palavras.
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