quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quien habla solo...

Ontem postei um texto lindíssimo de Antônio Machado cuja frase pivotal e bastante conhecida é Quien habla solo espera hablar a Dios un día

O significado dessa frase se explica pelo contexto que a antecede: Converso con el hombre que siempre va conmigo - Converso com o homem que sempre vai comigo - referindo-se logicamente ao próprio interlocutor, e completa: Quien habla solo espera hablar a Dios un día. 
O sentido aqui referido é o de que aquele que dialoga habitualmente consigo mesmo, adquire consciência subjetiva suficiente para falar aos outros, e por fim com Deus. 
Vivemos num mundo repleto de opiniões e ecos - ouvem-se os ecos e, na maioria das vezes não se sabe de onde vieram as vozes que os originaram, mesmo assim, desde que sejam esteticamente agradáveis e consoantes às expectativas coletivas eles continuam soando e soando, tenham eles raízes ou não. O resultado previsível e inevitável é aquilo que observamos na sociedade moderna: Qualquer garoto ou garota levanta-se para opinar e defender posições e tomar fervorosamente o partido em questões para as quais suas tenras existências sequer lhes permitiu ainda a oportunidade de vivenciarem aquilo que seria minimamente necessário para que tais posições pudessem ser confirmadas um mínimo de verdade radical. 
Em contrapartida a essa realidade, o texto de Machado no leva a refletir sobre a fundamental importância em ouvirmos a nossa própria voz no meio de tantas outras - pré-requisito básico para que não incorramos no ardil mental de não discernimos de onde primeiramente surgiu o pensamento que nos ocorre e o som que sai de nossa boca - Escrevendo sobre isso me ocorre a pergunta que Jesus fez a Pilatos em seu próprio tribunal quando esse, seguindo a massa perguntou o que a todos agradaria: "Tu és rei?". Jesus, sem divagações lhe devolve a seguinte pergunta: "Vem de ti mesmo essa pergunta ou outros te disseram isso?" 
Cada um de nós deveríamos nos questionar no mesmo sentido: "Será que vem de mim mesmo essas coisas que estou dizendo ou pensando? Será que não é apenas o eco que reverbera em mim e continua se propagando? Eu tenho elementos críticos suficientes para falar do que estou me propondo?"
Precisamos retornar a humildade - elemento sine qua nom de uma sociedade saudável - e, sem o medo de parecermos desinformados a quem quer que seja, e, tranquilamente concluirmos  diante de determinados assuntos: "Eu nao sei o suficiente sobre isso" ou "Não tenho ainda opiniões formadas sobre isso, o que tenho ainda são apenas impressões". Aonde está o demérito pessoal nisso? Por que precisamos parecer e parecer que de tudo sabemos em detrimento de cuidarmos de termos as raízes verdadeiras- sem a qual tudo é falsificação -  em nós mesmos? Por que precisamos fazer o papel de gênios iluminados em que todos sabem tudo sobre tudo! É evidente que isso é uma tremenda distorção de realidade!    

A poesia de Antonio Machado incita tacitamente a que é preciso que cada um aprenda a falar consigo mesmo, a ouvir a voz do próprio coração e submete-la a todos os processos de validação para, daí então, quem sabe - não necessariamente - arriscar-se em teses e opiniões. É preciso desarmar-se da pressa afoita de mudar o mundo através de nossas contribuições - essas, se Deus permitir, virão a seu tempo, antes porem, temos que vivenciar a experiência única e, realmente transformadora de nos deparamos com nossas próprias verdades. 

Mas isso obviamente requer tempo    

Um comentário:

  1. Hoje, assistindo a primeira aula do COF, encontrei esse artigo. Muito obrigada por esse registro em palavras.

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